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20 de Março 2023
A crise financeira paira sobre os EUA, depois da falência do Silicon Valley Bank. E, agora, também ameaça os mercados europeus, colocando o Credit Suisse em sérias dificuldades nos últimos dias. Mas mesmo perante a atual tempestade nos mercados financeiros (que pediu uma intervenção rápida das autoridades), o Banco Central Europeu (BCE) decidiu esta quinta-feira, dia 16 de março, voltar a subir as taxas de juro diretoras em 50 pontos base, mantendo assim o rumo de política monetária já anunciado. Agora, a taxa de refinanciamento está nos 3,5%, o que poderá agravar ainda mais os custos com os créditos habitação.
Nem mesmo num momento em que soam os alarmes devido à turbulência bancária nos EUA e na Europa, o regulador liderado por Christine Lagarde se deixou desviar do caminho de endurecimento da política monetária, que tem em vista baixar a inflação na Zona Euro para os 2%, a meta em que é assegurada a estabilidade dos preços.
"Projeta‑se que a inflação permaneça demasiado elevada durante demasiado tempo. Por conseguinte, o Conselho do BCE decidiu hoje aumentar as três taxas de juro diretoras do BCE em 50 pontos base, em conformidade com a sua determinação em assegurar um retorno atempado da inflação ao objetivo de 2% a médio prazo", explica o regulador europeu em comunicado publicado esta quinta-feira, dia 16 de março.
"O setor bancário da área do euro é resiliente, apresentando posições de capital e liquidez fortes", diz BCE
A questão é que o regulador corre, agora, o risco de dar gás a uma nova crise financeira global, tal como aconteceu em 2008. Sobre este ponto, o Conselho do BCE afirma estar "a acompanhar de perto as atuais tensões no mercado e está preparado para responder conforme necessário, no sentido de preservar a estabilidade de preços e a estabilidade financeira na área do euro", nomeadamente proporcionar, se necessário, "apoio em termos de liquidez ao sistema financeiro da área do euro e preservar a transmissão regular da política monetária", garantiu ainda.
Com este novo aumento de 50 pontos base esta quinta-feira anunciado, as três taxas de juro diretoras passam a ser as seguintes a partir de 22 março de 2023:
Com a subida de 350 pontos base registada em menos de um ano (entre julho de 2022 a março de 2023) - que foi a mais rápida desde a sua criação em 1999 -, as taxas de juro diretoras continuam, assim, nos níveis mais elevados dos últimos 15 anos, quando rebentou a crise financeira no final de 2008.
Este aumento das taxas de juro diretoras – como todos os outros até agora – vão voltar a impactar os bolsos das famílias, sobretudo, as que estão a pagar empréstimos da casa. Para Miguel Cabrita, responsável do idealista/créditohabitação em Portugal, "a notícia tem uma dupla vertente consoante o público a que se dirige: para as famílias com crédito habitação de taxa variável, este novo aumento representa um duro golpe devido ao aumento que irão sofrer nas suas prestações mensais, o que pode acabar por colocar em dificuldades os agregados mais vulneráveis. Por outro lado, estas medidas do regulador europeu parecem estar a ter um maior impacto na capacidade económica das famílias com empréstimos do que no próprio mercado imobiliário, que embora esteja a abrandar ligeiramente face a 2022, não está a desacelerar de maneira significativa”, analisa o responsável.
A verdade é que tudo indica que este não será o último aumento das taxas de juro diretoras previsto pelo guardião do euro, uma vez que a inflação permanece “demasiado elevada” e assim deverá continuar durante muito tempo, segundo estima o BCE. Resta saber se perante os recentes acontecimentos o BCE vai continuar o ritmo de subidas, vai abrandá-lo ou até mesmo inverter o sentido, descendo os juros. O que deverá ser certo é que a atual fragilidade do sistema bancário, a alta inflação e os riscos de recessão ou abrandamento económico vão ser pesados na balança nas próximas reuniões de política monetária agendadas para 4 de maio e 15 de junho.
"O nível elevado de incerteza reforça a importância de uma abordagem dependente dos dados nas decisões do Conselho do BCE sobre as taxas diretoras, que serão determinadas pela avaliação do mesmo das perspetivas de inflação, à luz dos dados económicos e financeiros que forem sendo disponibilizados, da dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária", dizem ainda desde a instituição liderada por Christine Lagarde.
No final da reunião de política monetária de 15 de fevereiro, a instituição presidida por Christine Lagarde adiantou que iria voltar a subir as taxas de juro diretoras em 50 pontos base no encontro seguinte, que decorreu esta quinta-feira. E, desde então, reforçou em vários momentos que iria voltar a subir os juros nesta dimensão, tendo em vista reduzir a inflação na Zona Euro.
Mas a recente falência do Silicon Valley Bank (SVB), nos Estados Unidos, e as suas repercussões noutras instituições bancárias, nomeadamente no Credit Suisse, criaram um desafio adicional para o BCE quanto à subida das taxas de juro. E aqui surgiu a dúvida no mercado: será que o regulador europeu iria manter a sua estratégia e voltar a subir os juros em 50 pontos ou iria abrandar as subidas?
O Conselho do BCE reuniu esta quinta-feira e decidiu manter o ritmo de subidas em 50 pontos base. Para já, parar de subir as taxas diretores não está em cima da mesa do regulador europeu, porque a descida da inflação na Zona Euro registada nos últimos meses ainda não é suficiente para que o BCE possa mudar o rumo da atual política. No mercado, a expectativa é que as taxas nos depósitos poderiam chegar até aos 4% no final de 2023 (hoje estão nos 3%).
Neste novo contexto de instabilidade económica e financeira, o BCE terá, assim, de decidir o que fazer às taxas de juro nas próximas reuniões, estando perante um dilema: ou reforça a luta contra a alta inflação na Zona Euro (que se fixou nos 8,5% em fevereiro) ou corre o risco de dar combustível a uma nova crise financeira global.
De acordo com as projeções macroeconómicas elaboradas por especialistas do BCE - que foram finalizadas antes do recente surgimento de tensões nos mercados financeiros -, a Zona Euro deverá registar uma inflação menos elevada e um crescimento mais forte do que o previsto em 2023, sobretudo devido à descida dos preços da energia e à "maior capacidade de resistência da economia à difícil situação internacional".
O BCE sublinha que estas novas projeções macroeconómicas foram concluídas no início de março e,portanto, antes da atual crise financeira. "Assim, essas tensões implicam uma incerteza adicional em torno das projeções de referência para a inflação e o crescimento" económico do espaço europeu, explicam em comunicado.
Vários especialistas e analistas de mercado adiantaram ao idealista/news que, tendo em conta os recentes acontecimentos na banca estadunidense, o BCE deverá, pelo menos, abrandar a subida dos juros nas próximas reuniões. “A falência de bancos nos EUA poderá conduzir a que tanto a Fed, como o BCE reconsiderem o nível ou até mesmo as subidas das taxas de juro”, adiantou Miguel Cabrita.
Também Filipe Garcia, analista financeiro na IMF - Informação de Mercados Financeiros, diz que “toda esta situação deverá fazer com que os bancos centrais abrandem ou mesmo interrompam a subida das taxas de juro de referência o que deverá reduzir os incumprimentos e permitir novos financiamentos a taxa mais baixa, sejam eles a taxa fixa sejam a taxa variável".
A verdade é que esta tensão visível no sistema financeiro internacional é um argumento adicional para os membros do BCE, que defendem uma política monetária menos agressiva – como é o caso de Mário Centeno. Além disso, este novo cenário poderá levar a que mais membros do regulador europeu passem a defender uma abordagem mais prudente a partir de agora, contra a continuação de aumentos mais agressivos no custo do dinheiro, que tem sido preconizada pelos chamados 'falcões'.
Isto porque, afinal de contas, toda esta nova crise financeira foi catalisada pela subida a todo o vapor das taxas de juro pela Reserva Federal dos EUA (Fed). Por detrás das dificuldades financeiras que levaram à falência do Silicon Valley Bank (SVB) – onde tudo começou - estiveram precisamente as altas taxas de juro do Fed, que desvalorizaram o mercado obrigacionista (onde o banco tinha negócios) e geraram uma corrida aos levantamentos.
Os efeitos da falência do SVB, nos EUA, logo se fizeram sentir na banca norte-americana e, dias depois, nas instituições financeiras na Europa. Este foi o caso do Credit Suisse, que depois de ter caído em bolsa e ter arrastado consigo toda a banca europeia, vai contar agora com um empréstimo do banco central da Suíça para “fortalecer” as contas da instituição e acalmar os ânimos dos investidores.
Os membros do BCE reuniram-se esta quinta-feira e, inevitavelmente, levaram consigo memórias do que se passou no encontro do conselho há cerca de 15 anos. Estávamos em julho de 2008, com uma inflação na Zona Euro nos 4% e os mercados financeiros nos EUA já a lidar com os problemas de crédito no subprime, recorda o Público. Mas, mesmo assim, o então presidente Jean-Claude Trichet anunciou que o BCE iria voltar a subir os juros diretores, colocando a taxa de financiamento nos 4,25%, o valor mais elevado desde 2001. Tal como hoje, o seu grande objetivo passava por baixar a inflação.
Esta quinta-feira, o Conselho do BCE reuniu-se e decidiu voltar a aumentar os juros diretores, mesmo num cenário de instabilidade financeira. Mas será que o guardião do euro está a cometer o mesmo erro do passado, onde a subida dos juros acabou por dar gás à crise financeira que se seguiu à falência do banco norte-americano Lehman Brothers? Ou será o panorama atual bem diferente?
Segundo dizem os especialistas de mercado, a turbulência bancária atual não é comparável à crise financeira de 2008, já que hoje o sistema bancário europeu também é "resiliente, apresentando posições de capital e liquidez fortes", tal como fincou o próprio BCE esta quinta-feira. “Qualquer comparação entre aquilo que agora ocorreu e o subprime é pouco acertada. A dimensão das empresas/setores afetados [sobretudo empresas tecnológicas nos EUA] é muito menor que a dimensão do mercado imobiliário. Logo, a natureza deste evento é diferente, bem como a sua dimensão, fazendo com que a repercussão no sistema seja também menor”, argumenta o analista financeiro Gonçalo Rodrigues em declarações ao idealista/news.
“O sistema bancário europeu está sujeito à supervisão do BCE, tem regras mais rígidas [do que as dos EUA], está muito mais robusto, a supervisão e a regulação tiveram uma mudança grande nestes anos pós crise financeira [de 2013]”, adiantou Fernando Medina, ministro das Finanças.
Portanto, “se não se registarem novas falências, nem nos EUA nem na Europa, estamos numa situação diferente da de 2008, já que o sistema bancário tem agora uma regulamentação mais apertada”, acrescenta ainda David Moura-George, diretor geral da Athena Advisers Portugal.
A rápida intervenção das autoridades, quer nos EUA quer na Europa, está, de facto, a apaziguar os ânimos dos investidores, empresas e famílias, refletindo os seus efeitos na bolsa:
Esta rápida mobilização das várias instituições nos EUA e na Europa poderá, então, ajudar a parar o efeito dominó desta atual crise financeira, impedindo que se agrave e se alastre a todo o mundo. Resta saber se estas ações chegam para travar este efeito de contágio, que rapidamente se propaga pelas instituições bancárias se nada for feito.